A questão não é ter mais ou menos público, ter mais ou menos tradição. Se fosse apenas isso, o Brasil não teria perdido a possibilidade de sediar a copa de 94 para os EUA, tampouco a Coreia e o Japão, teriam sediado o Mundial de 2002. Afinal, nesses países o futebol não é nem o primeiro esporte em preferência do público. Sequer é o segundo. O fato é que queriam mesmo construir novos estádios, a FIFA e a CBF (não sabemos com que intenção, mas desconfiamos) e Belém, alardeava já ter o seu pronto. E perdeu. Devem se conformar com isso os paraenses (por quem, aliás, tenho todo o respeito e admiração). Mas, perderam. Não adianta mais ficar cultivando esse tipo de discussão. E depois, que tanta tradição tem o Pará no futebol ? Seus times, assim como os nossos, estão fora das principais divisões do futebol brasileiro. Isso se deve a uma política discriminatória levada adiante pela CBF, o Clube dos 13 e a TV, em detrimento dos clubes do Norte e Nordeste, que fez com que no último ano, por exemplo, o Grêmio Prudente, antes Barueri, tenha jogado, na Primeira Divisão, para uma média de quinhentos pagantes em seu estádio e o Santa Cruz (PE), na Quarta Divisão, para cinquenta mil. Mas isso é um outro debate. Assim, como não quiseram fazer do Morumbi o estádio de SP para a abertura da Copa e vão construir o Fielzão, de preferência com bastante dinheiro público, decidiram optar pela sede na Amazônia de projeto mais caro. Isso é óbvio.
Agora, a matéria no fundo não quer louvar Belém em detrimento de Manaus. Não quer reconhecer os méritos ou deméritos de quem quer que seja. Quer é menosprezar os habitantes do Norte do Brasil. Na verdade, traz uma carga de preconceito embutido, de quem, ainda hoje, tem dificuldade de entender a Amazônia como parte do Brasil. Acham que o Norte do País só é notícia quando a temática é a devastação do meio ambiente; ou quando há desvios. Entendem que não somos capazes de produzir cultura.
Também tenho críticas à condução desse processo no Amazonas. Pra começar, acho que não precisavam ter demolido o Vivaldão. Que construíssem a tal da Arena em outro lugar. Mas, isso, já é passado. Já jogaram o dinheiro fora. Deveriam parar com isso.
Ao invés de formularem políticas para ocupação da nova Arena no pós-copa - e aí me parece que o caminho mais racional seria o fortalecimento do futebol amazonense, como fizeram os norte americanos e os japoneses poucos anos antes das Copas por eles sediadas. Mas, o que fazem ?
Acabam de dar dinheiro para o comentarista Edmundo e o Deputado Federal (RJ) Romário virem se apresentar por aqui, num torneio de futebol de areia que nada vale, nem nos levará a lugar nenhum, a não ser à manutenção de nossa insignificância no cenário esportivo nacional.
E gastaram milhões, o mais grave de tudo. Não é nem pelos milhões agora desperdiçados, o que é claro, constitui-se em absurdo. Mas a isso já estamos acostumados, e já nem há tanta indignação, se é que há alguma. Vide boa parte da imprensa esportiva local, desprovida de qualquer criticidade e compromisso com os rumos da nossa antipolítica esportiva, até elogia o evento, conferindo-lhe vastas
matérias.
O pior é o que isso representa: a mais absoluta falta de comprometimento com o esporte e a cultura da nossa terra Cada vez mais, querem fazer o povo acreditar que nosso destino é a insignificância cultural, que nada daqui tem valor, que nascemos destinados a reverenciar e só servimos para contemplar as coisas prontas que trazem pra cá, que somos incapazes de contribuir para a formação da nossa própria identidade.
Para justificar o injustificável dirão: mas o Amazonas não tem futebol. E os incautos, ou os oportunistas, concordarão. E então, estará tudo justificado. E deveremos concluir que também não temos artistas, nem cultura, nem samba, nem poesia, nem nada. Somos isso: uns nada. E viva o Flamengo e o Vasco, o Corinthans e o São Paulo, a Mangueira e a Beija-Flor, o Festival de Ópera e o Amazonas Film Festival. É preciso romper com essas práticas. Cabe ao novo Governo fazê-lo. Ainda dá tempo. (Luís Cláudio Chaves)
Agora, a matéria no fundo não quer louvar Belém em detrimento de Manaus. Não quer reconhecer os méritos ou deméritos de quem quer que seja. Quer é menosprezar os habitantes do Norte do Brasil. Na verdade, traz uma carga de preconceito embutido, de quem, ainda hoje, tem dificuldade de entender a Amazônia como parte do Brasil. Acham que o Norte do País só é notícia quando a temática é a devastação do meio ambiente; ou quando há desvios. Entendem que não somos capazes de produzir cultura.
Também tenho críticas à condução desse processo no Amazonas. Pra começar, acho que não precisavam ter demolido o Vivaldão. Que construíssem a tal da Arena em outro lugar. Mas, isso, já é passado. Já jogaram o dinheiro fora. Deveriam parar com isso.
Ao invés de formularem políticas para ocupação da nova Arena no pós-copa - e aí me parece que o caminho mais racional seria o fortalecimento do futebol amazonense, como fizeram os norte americanos e os japoneses poucos anos antes das Copas por eles sediadas. Mas, o que fazem ?
Acabam de dar dinheiro para o comentarista Edmundo e o Deputado Federal (RJ) Romário virem se apresentar por aqui, num torneio de futebol de areia que nada vale, nem nos levará a lugar nenhum, a não ser à manutenção de nossa insignificância no cenário esportivo nacional.
E gastaram milhões, o mais grave de tudo. Não é nem pelos milhões agora desperdiçados, o que é claro, constitui-se em absurdo. Mas a isso já estamos acostumados, e já nem há tanta indignação, se é que há alguma. Vide boa parte da imprensa esportiva local, desprovida de qualquer criticidade e compromisso com os rumos da nossa antipolítica esportiva, até elogia o evento, conferindo-lhe vastas
matérias.
O pior é o que isso representa: a mais absoluta falta de comprometimento com o esporte e a cultura da nossa terra Cada vez mais, querem fazer o povo acreditar que nosso destino é a insignificância cultural, que nada daqui tem valor, que nascemos destinados a reverenciar e só servimos para contemplar as coisas prontas que trazem pra cá, que somos incapazes de contribuir para a formação da nossa própria identidade.
Para justificar o injustificável dirão: mas o Amazonas não tem futebol. E os incautos, ou os oportunistas, concordarão. E então, estará tudo justificado. E deveremos concluir que também não temos artistas, nem cultura, nem samba, nem poesia, nem nada. Somos isso: uns nada. E viva o Flamengo e o Vasco, o Corinthans e o São Paulo, a Mangueira e a Beija-Flor, o Festival de Ópera e o Amazonas Film Festival. É preciso romper com essas práticas. Cabe ao novo Governo fazê-lo. Ainda dá tempo. (Luís Cláudio Chaves)
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